sábado, 2 de outubro de 2010

Zarmina, uma segunda Terra?

Peter Moon
O repórter especial de ÉPOCA vive No mundo da Lua, um espaço onde dá vazão ao seu fascínio por aventura, cultura, ciência e tecnologia.

Sonhando com ETs
A segunda notícia da semana decorre da ironia do destino. Desde a Antiguidade e até 1993, conhecia-se apenas os planetas do sistema solar, imerso num oceano de estrelas chamado Via Láctea, imersa por sua vez num oceano de galáxias chamado universo. Mas, em 1993, foram detectados os primeiros planetas orbitando outras estrelas. Eles não foram fotografados. Sua existência foi inferida a partir da oscilação que a sua atração gravitacional exerce na posição relativa no céu da estrela que orbitam. São mundos gasosos gigantes e incandescentes, muito maiores que Júpiter ou Saturno. Jamais abrigariam vida.

Desde então foram detectados 490 planetas orbitando 412 estrelas. Nenhum poderia abrigar a vida como a conhecemos, pois, apesar de alguns poucos serem planetas rochosos, ainda assim são mundos infernais ou muito mais gelados que o dia mais frio de inverno no coração da Antártida. Nenhum se situa no “cinturão habitável”, um anel em torno da estrela onde pode haver planetas com água em estado líquido - como a Terra. E água corrente é uma condição básica para a vida.

É exatamente chuva e oceanos que o americano Steven Vogt, um astrônomo da Universidade da Califórnia em Santa Cruz espera (espera, não a prova nenhuma disto) existir no recém-descoberto planeta Gliese 581g. G é a sétima letra do alfabeto. Gliese 581g é o sétimo planeta achado por Vogt no sistema da estrela Gliese 581 (o primeiro foi achado há 11 anos).

Zarmina, como Voigt prefere chamá-lo (Zarmina é o nome da sua mulher) é tudo com que os astrônomos sonhavam. Tem o tamanho de 3,1 Terras, ou seja, é um planeta pequeno e rochoso. A gravidade na superfície é de 1,1 a 1,7 vezes a terrestre. E fica bem no meio da zona habitável do sistema Gliese 581. Não bastasse, Zarmina é nossa vizinha. Fica só a 20 anos-luz de distância. Em termos cósmicos, é dobrando a esquina.

Durante o anúncio da descoberta, Vogt foi pressionado pelos jornalistas a falar sobre a possibilidade de vida em Zarmina. No começo, tergiversou alegando ser um astrônomo, não um biólogo. Acabou cedendo: “As chances de vida neste planeta são quase 100%”.

Zarmina pode ter vida. Mas também pode não ter. Pode ser um mundo infernal como Vênus. Apesar de inserido da zona habitável do Sol, Vênus é vítima de um efeito estufa descontrolado, que eleva a temperatura na superfície a 800 graus Celsius.

Se Zarmina abrigar vida, talvez seja vida inteligente? Ou talvez seja o túmulo de uma civilização extinta? Existe sempre a possibilidade de, dado o grau de avanço tecnológico, seus habitantes preferirem simplesmente manter-se em silêncio a ser incomodados por terráqueos selvagens, primitivos e encrenqueiros? Talvez nunca saibamos a resposta. O problema é a distância...

Isolados, jamais sozinhos

A nave mais rápida feita pelo homem é a Voyager 2. Lançada em 1977, a Voyager 2 visitou Saturno, Urano e Netuno. Neste momento ela está saindo do sistema solar à velocidade de 16,5 km/s ou 70 mil km/h. Nessa velocidade, levaria 363 mil anos para chegar a Zarmina. É mais tempo do que a idade da nossa espécie, o Homo sapiens, que evoluiu na África faz cerca de 250 mil anos.

Voar mais rápido que a luz, segundo Einstein, é proibido. Se algum dia, no século XXIII de Jornada nas Estrelas, formos capazes de construir naves para voar a 90% da velocidade da luz, ainda assim levará 22 anos para ir a Zarmina. Caso não sejamos capazes de desenvolver meios de propulsão para acelerar naves a frações consideráveis da velocidades da luz, estaremos para sempre confinados no sistema solar. Estaremos isolados... jamais sozinhos. Esta é a tremenda importância da descoberta de Zarmina.

Em 1962, o astrônomo americano Frank Drake propôs uma famosa equação para determinar o número de civilizações inteligentes na Via Láctea. Se a equação de Drake está correta, e sabendo-se hoje que a existência de sistemas planetários ao redor de estrelas é a regra, não a exceção, estima-se que possam existir até 20 mil civilizações inteligentes espalhadas pelas 100 bilhões de estrelas da Via Láctea. Haveria pelo menos uma num raio de 1.500 anos-luz da Terra.

Levando-se este último cálculo em conta, as chances de Zarmina ser habitada por gente inteligente (qualquer seja a sua forma) é bastante remota. Isto, é claro, se houver vida fora da Terra. A descoberta de Zarmina eleva esta possibilidade a uma quase certeza.