A esquizofrenia é um transtorno psíquico grave, contínuo e de causas múltiplas, marcado pelo afastamento da realidade.
Em termos clínicos, apresenta manifestações positivas (como delírios e alucinações) e negativas (como embotamento afetivo e apatia), além de limitações cognitivas e dificuldade na organização do pensamento.
Conforme aponta a literatura médica, “os aspectos mais marcantes da esquizofrenia são alucinações e delírios, distúrbios no pensamento e na linguagem, alterações emocionais e afetivas, déficits cognitivos e avolição”.
As alucinações auditivas (ouvir vozes) surgem em cerca de metade dos casos, enquanto os delírios (crenças falsas) aparecem em mais de 90%. O quadro geralmente se manifesta na adolescência ou no início da fase adulta, com início gradual, precedido por sintomas prodrômicos como isolamento, desânimo e descuido pessoal.
O diagnóstico é clínico, realizado por meio de entrevistas estruturadas e parâmetros internacionais.
O Manual MSD afirma que “a esquizofrenia é definida por sintomas psicóticos, como delírios, alucinações, pensamento e linguagem desorganizados e comportamentos bizarros e inadequados”. O tratamento indicado combina uso de antipsicóticos com suporte psicossocial e psicoterapia. De acordo com diretrizes médicas, “os medicamentos antipsicóticos, a reabilitação e os serviços comunitários de apoio, além da psicoterapia, são os três pilares do tratamento”.
Ações educativas e amparo familiar também são essenciais para melhorar o desempenho global do paciente. A ciência concorda que iniciar o tratamento precocemente favorece muito o prognóstico a longo prazo.
Do ponto de vista científico, acredita-se que a esquizofrenia resulte da combinação entre predisposição genética e fatores ambientais (traumas, uso de substâncias, estresse), que impactam neurotransmissores e circuitos cerebrais. Sua causa exata ainda é desconhecida, mas não decorre de “fraqueza moral” nem de influência espiritual negativa; trata-se de uma enfermidade biológica complexa que requer tratamento médico apropriado.
Para o Espiritismo, as enfermidades fazem parte das provas e expiações da existência terrena. Allan Kardec ensina que “as doenças fazem parte das provas e das vicissitudes da vida material; são inerentes à rudeza da nossa condição carnal”.
Assim, transtornos mentais como a esquizofrenia não são vistos como meras coincidências, mas como reflexos das imperfeições físicas e morais herdadas.
Em mundos mais evoluídos espiritualmente, os corpos são mais sutis e menos sujeitos a tais doenças. Ainda assim, Kardec enfatiza que devemos buscar os recursos e tratamentos disponíveis: Deus nos oferece meios de cura, cabendo a nós utilizá-los. De forma geral, o Espiritismo valoriza a medicina: estimula o uso consciente de medicamentos e terapias, sem excluir o acompanhamento médico.
Sob essa ótica, a mediunidade é entendida como uma aptidão natural de certos espíritos encarnados para intermediar o contato entre o plano espiritual e o físico. Conforme ensina a Codificação Espírita, todos estamos sujeitos à influência dos espíritos (Livro dos Espíritos, questão 459), mas nem todos expressam mediunidade de forma ostensiva.
A mediunidade não é enfermidade: trata-se de uma habilidade inata, independente do nível moral ou educacional, podendo se manifestar em diversas formas (intuições, sonambulismo, psicografia, psicofonia etc.).
Renomados médiuns espíritas, como Divaldo Franco e Suely Schubert, explicam que essa faculdade auxilia na reforma íntima e no exercício da caridade espiritual, promovendo o crescimento moral.
Contudo, a história do Espiritismo revela que, em muitos momentos, a mediunidade foi confundida com distúrbios mentais.
Antigos centros espíritas chegaram a acreditar que médiuns “possuídos” ou com distúrbios psicológicos estariam sob obsessão.
Pesquisas recentes demonstram que a mediunidade equilibrada é distinta de quadros psicóticos.
Por exemplo, investigações da UFJF apontam que médiuns espíritas apresentam baixo índice de transtornos mentais e boa adaptação social. Em geral, vivenciam fenômenos mediúnicos desde cedo, de forma progressiva e consciente, sem prejuízos em sua vida cotidiana.
Além disso, ao contrário dos pacientes com transtornos mentais, médiuns treinados mantêm postura crítica (avaliam suas experiências), não sofrem perdas sociais ou ocupacionais, e relatam benefícios pessoais – características identificadas como diferenciais importantes por uma pesquisa científica.
Critérios úteis para distinguir mediunidade equilibrada de transtornos (pesquisa UFJF):
• Não há sofrimento psíquico acentuado no médium (a experiência traz paz ou propósito, não desespero).
• Impacto social e profissional reduzido: o médium continua estudando e trabalhando normalmente.
• Duração limitada no início: manifestações episódicas, sem prolongamentos descontrolados.
• Postura crítica: o médium questiona suas experiências, sem aceitação automática.
• Conexão com a cultura espírita: as experiências têm coerência com os valores do meio.
• Não há comorbidades mentais: ausência de diagnósticos psiquiátricos associados.
• Capacidade de controle: o médium consegue pausar ou amenizar as manifestações.
• Crescimento espiritual: as mensagens trazem ensinamentos e evolução moral.
• Comportamento altruísta: o médium demonstra desejo de ajudar e aplicar os aprendizados.
Esses parâmetros auxiliam na prevenção de erros graves: como alerta Alexander Moreira-Almeida, “infelizmente, muitas pessoas com transtornos mentais interrompem seus tratamentos por acreditarem estar apenas passando por experiências espirituais” – erro perigoso, que pode comprometer seriamente sua saúde.
Para ilustrar as dificuldades pessoais, destacam-se relatos tocantes de indivíduos com esquizofrenia.
Em estudo com pacientes crônicos, observou-se o sofrimento cotidiano. Um deles afirmou:
“[A esquizofrenia] virou minha vida de cabeça pra baixo.” (Orquídea).
Esse depoimento reflete a realidade de muitos: desmotivação, isolamento e autoestima abalada. Outra paciente relatou dificuldades nos estudos:
“Eu fazia faculdade de nutrição… peguei muitas DPs, minhas notas caíram. Numa prova… escrevi várias palavras sem sentido. Em vez de responder, falava outras coisas.” (Rosa).
Quedas no desempenho acadêmico e confusão mental são comuns nos estágios iniciais. Um outro participante relatou perda do desejo de viver:
“Não consigo mais trabalhar. Sempre fui dedicado, estudioso… agora não consigo. Fico abatido, não termino nada… antes eu tinha responsabilidade, agora não tenho mais.” (Orquídea).
Esses testemunhos mostram o impacto da esquizofrenia na rotina: falta de energia, dificuldade de concentração e profundo desânimo. Muitos enfrentam alucinações angustiantes. Uma entrevistada relatou ouvir vozes de comando ameaçadoras:
“Começam vozes dizendo: ‘se mata! Ou machuca alguém da família’… Mandam me enforcar, cortar meu pescoço… ou destruir tudo de ruim na casa… Se estou sozinha, [posso] tentar suicídio, mesmo sabendo que ninguém vê.” (Orquídea).
Tais vozes internas são intensamente perturbadoras. Já Girassol contou que, com o tempo e o tratamento, passou a perceber que suas alucinações vinham da mente:
“Eu insistia que era real. Eu via, pra mim era verdade! Com os anos e a medicação, comecei a entender. Hoje, mesmo em surto, já consigo perceber que não é real.” (Girassol).
Isso mostra que, com suporte, alguns pacientes desenvolvem lucidez. Contudo, nem todos alcançam essa compreensão; outra entrevistada, Violeta, ainda sofre com visões aterradoras, chegando a arrancar os próprios cabelos em desespero.
Por outro lado, as experiências mediúnicas genuínas tendem a ter um tom diferente. Pesquisas mostram que nas manifestações mediúnicas os espíritos transmitem mensagens organizadas, frequentemente confortadoras.
Voluntários espíritas relatam que uma mediunidade saudável permite ao médium descrever as visões com clareza, sem delírios caóticos.
Por exemplo, um guia espiritual que se comunica por meio de um médium raramente se expressa de forma confusa; sua fala costuma ser coesa e instrutiva.
Conforme artigo da UsePiracicaba, “as alucinações do paciente com esquizofrenia geralmente possuem conteúdo desconexo com a realidade e sem lógica cronológica.
Já as experiências mediúnicas são relatadas com mais serenidade, pois o médium consegue detalhar o que vê e ouve”. Em síntese, um médium treinado relata fenômenos sob controle, enquanto a pessoa em surto vive episódios confusos e traumatizantes.
Além dos relatos clínicos, há casos em que a doença motivou uma jornada espiritual. Alguns pacientes encontraram no Espiritismo um alívio: uma mulher relatou que, após ouvir mensagens religiosas persistentes, passou a frequentar um centro espírita e se reconheceu como médium. Em suas palavras:
“…me dizem que é pra eu ir à igreja que tudo passa e que é coisa da minha mente. Eles [os espíritas] curam, né! Agora eu sou espírita… eu sou médium, né…” (Violeta).
Embora esse relato tenha levado a um despertar espiritual, ele também alerta para o risco de abandonar o tratamento médico (“eles curam, né!”).
O estudo destaca que conselhos externos podem prejudicar quem tem esquizofrenia, ao desencorajá-los a seguir os cuidados adequados.
Por isso, é vital saber distinguir o amparo espiritual legítimo de orientações que coloquem o paciente em risco.
Quando alguém relata ouvir vozes ou ver espíritos, como saber se se trata de mediunidade ou de uma enfermidade?
O cuidado deve ser integral: médico e espiritual. Nos centros espíritas, observa-se com atenção o contexto das manifestações.
Alguns pontos auxiliam nessa diferenciação, conforme o estudo mencionado:
• Histórico de vida: Acredita-se que médiuns crescem com vida social comum.
Na esquizofrenia, muitas vezes ocorre um afastamento social e perda de interesse anterior (pródromos). Em geral, “esquizofrênicos iniciam o quadro com isolamento e falta de interesse por atividades.
Já os médiuns, normalmente, não apresentam tais sinais, desenvolvendo-se socialmente”.
• Reação pessoal: A mediunidade pode surpreender no início, mas o médium equilibrado não entra em pânico nem manifesta sintomas mentais adicionais.
Se, ao “ouvir vozes”, a pessoa permanece tranquila e consegue refletir, é provável que se trate de mediunidade. Já no transtorno, as vozes vêm acompanhadas de grande ansiedade.
• Conteúdo das vivências: Alucinações psiquiátricas tendem a ser confusas e sem lógica. Já a mediunidade, segundo Kardec, “consiste em comunicações claras e ordenadas” com espíritos benévolos. Estudos espíritas mostram que médiuns relatam os fenômenos com coerência, enquanto nas alucinações psicóticas o discurso é desconexo.
• Controle e reação: Médiuns experientes costumam conseguir interromper as manifestações (com passes ou repouso), sem grandes danos. Já quem passa por surtos psicóticos não consegue interromper os episódios e sofre intensamente.
• Senso crítico: A maioria dos médiuns mantém dúvidas no início (“isso é real?”) até compreender o que vivencia. Já o paciente psiquiátrico geralmente aceita de forma absoluta o delírio. O senso crítico é indicativo de mediunidade equilibrada.
• Efeitos na vida: Se a experiência espiritual promove amadurecimento, elevação moral e desejo de servir (como envolvimento em tarefas espíritas ou caritativas), é sinal de mediunidade saudável. Por outro lado, se há retraimento, incapacidade de manter estudos ou trabalho e prejuízos nas relações, é necessário apoio médico.
Vale lembrar que esses mundos podem coexistir: alguém com esquizofrenia também pode apresentar certa sensibilidade mediúnica (e vice-versa).
Por isso, a avaliação ideal exige profissionais da saúde mental com abertura às questões espirituais e dirigentes espíritas bem instruídos em psiquiatria.
A pesquisa da UFJF conclui que, diante de uma suspeita de esquizofrenia, é preciso “avaliar a condição física, psíquica e espiritual da pessoa, para melhor compreender sua situação”.
Em resumo, tratar o “ser integral”: oferecer terapia e medicação quando necessário, mas também passes, orações e orientação espiritual, desde que esses não substituam o tratamento clínico.
Independentemente das causas atribuídas, a pessoa com esquizofrenia merece amor, acolhimento e cuidado especializado. Os relatos mostram que, além dos sintomas, esses indivíduos enfrentam preconceito e exclusão.
Um dos entrevistados relatou o estigma de seu entorno: “Eu não gosto quando os vizinhos me chamam de louca…: lá vem a louca!”.
Esse preconceito – tanto interno quanto externo – causa profundo sofrimento.
Por isso, o Espiritismo destaca a importância de preservar a dignidade humana em todas as situações. Como conclui o estudo citado, é essencial ouvir e valorizar as experiências dos que convivem com a esquizofrenia.
As pesquisadoras observaram que dar voz aos pacientes já foi um ato de acolhimento:
“As falas dos entrevistados foram surpreendentes… o momento da entrevista foi de grande valor para a valorização destes indivíduos, pois tiveram chance de ver seus sofrimentos reconhecidos, escutados e respeitados, exercitando… seu direito à cidadania.”
Essa frase é um lembrete potente: muitas vezes, um ouvido atento e uma presença solidária já aliviam o peso da doença.
Cada pessoa em sofrimento carrega um universo de dores que merece compaixão.
Familiares e espíritas podem ter papel decisivo nesse acolhimento.
O estudo mostra que cada família reage de maneira diferente, mas o suporte contínuo sempre impacta positivamente: ter alguém presente faz a pessoa atravessar melhor as crises.
A religião também pode ser fonte de conforto – orar, manter a fé e sentir o amparo dos guias espirituais é reconfortante.
Entretanto, é essencial orientar com sabedoria: desencorajar promessas de cura imediata e lembrar sempre da importância de manter os medicamentos quando prescritos.
Por fim, todos os entrevistados (e nós leitores) devemos recordar que, por trás de um diagnóstico, existe um espírito imortal enfrentando uma difícil provação.
Nosso papel, espiritualmente, é orar por ele, suavizar seus fardos e garantir que receba cuidados humanos e dignos.
Essa visão é também a base da enfermagem psiquiátrica: “em qualquer área de atuação, haverá sempre a possibilidade de acolher um portador de transtorno mental com dignidade e respeito à sua cidadania”.
Em resumo, diante da esquizofrenia – sob o olhar da ciência ou do Espiritismo – nosso compromisso como irmãos de jornada é praticar a empatia, oferecer cuidado integral e sem julgamentos.
Assim, podemos transformar dor em esperança e ajudar o enfermo a reencontrar seu valor e direção no plano espiritual.
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