É nos primeiros anos da infância que
o espírito encarnado pode ter lembranças da vida passada. Após este curto
período, o indivíduo, que retorna à Terra para mais uma jornada de
aprendizados, tende a esquecer as recordações para o resto de sua vida. Mas, independentemente
da ocorrência ou não de lembranças, o mais importante na infância é a
experiência educativa que o indivíduo acrescentará da relação com seus pais
biológicos ou substitutos. Geralmente, espíritos conhecidos de outras jornadas
na dimensão física.
Na lógica existencial, o que interessa para a criança nesta fase de dependência e de intenso envolvimento emocional e sentimental com seus responsáveis é a qualidade da educação recebida em termos de afetividade e valores, visto que o espírito mantém de forma latente neste período, traços de caráter que traz consigo de vivências passadas.
No entanto, mesmo a qualidade da educação transmitida à criança, não é garantia de um futuro adulto psiquicamente saudável. Tal afirmação verificamos nos inúmeros casos de irmãos, que embora tenham saído da mesma "forma" educativa, tornam-se adultos completamente diferentes no sentido comportamental.
É na adolescência que aparecem as acentuadas diferenças entre irmãos biológicos. Fase de turbulência na qual afloram os problemas mal resolvidos na relação com os pais, associado a traços de caráter herdados de outras vivências na matéria. Nesta direção, Joanna de Ângelis, pela psicografia de Divaldo Pereira Franco, nos alerta: "A educação no lar e na escola constitui o valioso recurso psicoterapêutico preventivo em relação a todos os tipos de drogas e substâncias aditivas, desvios comportamentais e sociais, bengalas psicológicas e outros derivativos".
Nesta difícil fase de transição, o espírito reassume a sua verdadeira condição, apresentando a partir daí todos os seus defeitos e virtudes. Em O Livro dos Espíritos, questão 385, Kardec pergunta de onde provém a mudança que se opera no caráter, a certa idade e, particularmente, na adolescência. Os espíritos que o assessoram respondem o seguinte: "É o espírito que retorna sua natureza e se mostra como ele era".
A fase de conflitos vivenciada pelo adolescente nada mais é que o choque destas energias, quando presente e passado tentam se entender na solução de problemas internos, que definirá o comportamento predominante do futuro adulto.
Por outro lado, a maternidade, assim como a paternidade, são oportunidades para os espíritos envolvidos numa realidade de convívio familiar se reconciliarem através da energia do amor, pois está na missão de ser mãe, pai ou irmão, o compromisso de resgatar a relação de confiança perdida em alguma experiência do remoto passado.
Portanto, o conflito da adolescência, mais significativo para uns, menos para outros, é a forma que o ser inteligente encontra de acrescentar mais ou menos qualidade no seu "curriculum vitae". A diferença de qualidade estará sempre na educação recebida dos responsáveis, que poderá, através da combinação amor-equilíbrio, alterar positivamente o padrão comportamental de seu filho, construído durante as muitas vidas do espírito reencarnado. O mesmo não ocorre quando a qualidade do amor-equilíbrio fica comprometida na relação pais-filhos. Experiência que pode manter ou alterar negativamente o modelo comportamental do indivíduo.
A vida para o indivíduo dotado de inteligência e livre-arbítrio, é uma soma de registros pretéritos e atuais. Registros que passam pela importância e significado da educação no processo de crescimento da pessoa. Quando este processo sofre interferência negativa dos responsáveis, a adolescência sinaliza a intensidade de sua crise, que revela em seus bastidores, uma considerável energia psíquico-espiritual em desarmonia. Situação que poderá transferir para a vida adulta uma série de transtornos ao indivíduo.
No contexto vital, a adolescência é uma síntese que traz consigo a energia do remoto passado, associada à energia da experiência relacional com os pais da vida atual. Este resultado é fundamental para tornar a adolescência uma experiência mais ou menos problemática, pois, como registramos anteriormente, cada indivíduo carrega o seu próprio currículo. "Fardo" que para uns é pesado e para outros, leve. Por este motivo, as experiências vitais são distintas, mesmo aquelas que tiveram o mesmo tratamento pelo processo educativo, que são os casos de irmãos diferentes em tudo, embora tivessem convivido sob a responsabilidade de pais conscienciosos e amorosos.
Contudo, independentemente das tendências que podem definir o rumo de uma vida, cada indivíduo traz também consigo, a "voz" da consciência nos momentos de fazer as suas escolhas pela orientação do livre-arbítrio. Esta "lacuna" do tempo, que não é pretérito nem presente, mas futuro, poderá ser fundamental na escolha de um novo caminho para a vida.
Embora o compromisso familiar tenha a sua importância no contexto vital, e estejamos atrelados às leis da reencarnação, cada jovem tem o poder de decidir sobre seus desígnios. Poder que poderá mudar para melhor uma história de muitas vidas do espírito imortal.
por Flávio Bastos