quinta-feira, 3 de setembro de 2015

Perispírito

"Existem no homem três coisas:
·        O corpo ou ser material;
·        A alma ou ser imaterial;
·        O laço que prende a alma ao corpo, princípio intermediário entre a matéria e o espírito". – Allan Kardec, em O Livro dos Espíritos, Introdução, item VI.

 Este princípio intermediário é o que chamamos de perispírito.
 Segundo Kardec, em A Gênese, cap. XIV, item 7, "o perispírito, ou corpo fluídico dos Espíritos, (...) é uma condensação desse fluido (fluido cósmico) ao redor de um foco de inteligência ou alma."
 E no item 22, assim o define: “(...) é o traço de união entre a vida corpórea e a vida espiritual. É por ele que o Espírito encarnado está em contínua relação com os Espíritos; é por ele, enfim, que se cumprem, no homem, fenômenos especiais que não têm a sua causa primeira na matéria tangível, e que, por esta razão, parecem sobrenaturais."
 Já em O Livro dos Médiuns, segunda parte, capítulo I, Allan Kardec afirma que o perispírito "é o intermediário de todas as sensações que o Espírito percebe e através do qual o Espírito transmite a sua vontade ao exterior, agindo sobre os órgãos do corpo."
 Além disto, "o perispírito é o órgão sensitivo do Espírito; é por seu intermédio que o Espírito encarnado tem a percepção das coisas espirituais que escapam aos seus sentidos carnais." - A Gênese, cap. XIV, item 22.
 Jacob Melo, em O Passe cita Gabriel Dellane que assim se expressa: “Alma e perispírito formam um todo indivisível, constituindo, no conjunto, as partes ativa e passiva, as duas faces do princípio pensante. O invólucro é a parte material, a que tem por função reter todos os estados de consciência, de sensibilidade ou de vontade; é o reservatório de todos os conhecimentos, e, como nada se perde na natureza, sendo o invólucro indestrutível, a alma tem memória integral quando se encontra no espaço.”
O perispírito é a ideia diretora, o plano imponderável da estrutura orgânica. É ele que armazena, registra, conserva todas as percepções, todas as volições e ideias da alma. E não somente incrusta na substância todos os estados anímicos determinados pelo mundo exterior, como se constitui a testemunha imutável, o detentor indefectível dos mais fugidios pensamentos, dos sonhos apenas entrevistos e formulados.”
“É, enfim, o guardião fiel, o acervo imperecível do nosso passado. Em sua substância incorruptível, fixaram-se as leis do nosso desenvolvimento, tornando-o, por excelência, o conservador de nossa personalidade, por isso que nele é que reside a memória”.
 Mais à frente, Jacob Melo cita Emmanuel, em Dissertações Mediúnicas:
O ORGANISMO FLUÍDICO, caracterizado por seus elementos imutáveis, é o assimilador das forças protoplásmicas, o mantenedor da aglutinação molecular que organiza as configurações típicas de cada espécie, incorporando-se, átomo a átomo, à matéria do germe e dirigindo-a, segundo a sua natureza particular.”
“(...) É ainda, pois, ao CORPO ESPIRITUAL que se deve a maravilha da memória, misteriosa chapa fotográfica, onde tudo se grava, sem que os menores coloridos das imagens se confundam entre si.”
“É, pois, CORPO ESPIRITUAL a alma fisiológica, assimilando a matéria ao seu molde, à sua estrutura, a fim de materializar-se no mundo palpável”.
 O perispírito e o corpo físico são formados da mesma substância, ou seja, são condensações do fluido cósmico. A diferença se encontra no fato de que no perispírito "a transformação se opera diferentemente, porque o fluido conserva a sua imponderabilidade e as suas qualidades etéreas. O corpo perispiritual e o corpo carnal têm, pois, a sua fonte no mesmo elemento primitivo; um e o outro são da matéria, embora sob dois estados diferentes." - Allan Kardec, em A Gênese, cap. XIV, item 7.
 Continua Kardec, no item 8: "Os Espíritos haurem o seu perispírito no meio onde se encontrem, quer dizer que este envoltório é formado de fluidos ambientes; disso resulta que os elementos constitutivos do perispírito devem variar segundo os mundos.”
 Mais adiante "A natureza do envoltório fluídico está sempre em relação com o grau de adiantamento moral do Espírito.”
"(...) Os Espíritos são chamados a viver nesse meio e aí haurem o seu perispírito; mas, segundo o Espírito seja mais ou menos depurado, ele mesmo, seu perispírito se forma das partes mais puras, ou das mais grosseiras, do fluido próprio do mundo onde se encarna.”
"Disto resulta este fato capital, que a constituição íntima do perispírito não é idêntica entre todos os Espíritos, encarnados ou desencarnados, que povoam a Terra ou o espaço circundante."
 Partindo dessas premissas, podemos concluir, no que tange à origem e natureza do Perispírito que:
·        O mesmo sendo matéria é inerte, não pensa.
·        As sensações, as percepções, a inteligência, o pensamento, não são atributos do perispírito, mas sim do Espírito.
·        Que a ideia de forma é inseparável da de Espírito. Não há como conceber uma sem a outra. Assim, o perispírito faz parte integrante do Espírito, evidenciando que em qualquer grau de adiantamento em que se encontre o Espírito, sempre estará revestido de um envoltório, ou perispírito.
·        Que o perispírito forma o corpo semimaterial dos Espíritos, quando no mundo espiritual, e serve de elo, de intermediário, com o corpo físico, quando encarnado.

Propriedades

1) Aparições

 O Espírito pode, por sua vontade, operar uma modificação na constituição íntima do seu perispírito tornando-o visível. Para que isto ocorra é necessário que o Espírito o queira e que os fluidos dele e do médium possuam afinidade. Pode operar ainda uma modificação mais profunda, atraindo a si elementos materiais fazendo-se, então, visível para qualquer encarnado. É o fenômeno comumente chamado dematerialização.
 Ainda dentro da mesma propriedade, um Espírito mais elevado pode ver um outro menos elevado, mas o inferior só poderá enxergar o superior se este assim o desejar.

2) Tangibilidade

 Pode ocorrer uma condensação tal, que ele adquira todas as características de um ser encarnado, podendo ser sentidas a respiração, o calor do corpo, a solidez, etc. De outras vezes, apresenta-se vaporosa e menos nítida.

3) Transfiguração

 O perispírito do encarnado pode às vezes transformar-se, irradiando seus fluidos por sobre a forma material, ocultando-a, mostrando uma aparência diversa ou mesmo a do Espírito comunicante.
 Pode ocorrer em diversos graus de acordo com a maior ou menor pureza do perispírito, o que corresponde à maior ou menor elevação moral do Espírito.

4) Bicorporeidade

 O Espírito encarnado pode, desprendendo-se do seu corpo físico, materializar-se e tornar-se visível e tangível para as outras pessoas.

5) Penetrabilidade

 Nada constitui obstáculo ao perispírito. Ele atravessa qualquer matéria, apesar de muitos Espíritos, por ignorância, não conseguirem fazê-lo por desconhecerem que podem.

6) Emancipação

 Durante qualquer instante de sono, o Espírito pode libertar-se parcialmente do seu corpo, enquanto este repousa. O Espírito permanece ligado à veste carnal pelo cordão fluídico que é o laço que prende o perispírito à matéria e que só é rompido por ocasião da morte.
 Este desprendimento ocorre também nos chamados fenômenos de emancipação da alma, tais como o sonambulismo, a dupla vista, o êxtase, a catalepsia, a letargia, dentre outros.

7) Expansibilidade e Flexibilidade

 O perispírito pode expandir-se, pois não se encontra restrito aos limites do corpo físico podendo irradiar-se e tomar a forma que o Espírito quiser, aquela que mais lhe agrade ou aquela através da qual possa ser reconhecido.

8) Condutor de sensações

 O perispírito serve de canal por onde as sensações recebidas através do corpo físico chegam até o Espírito propriamente dito e retornam deste ao corpo físico, num trânsito contínuo e ininterrupto.

Funções

·        Modelador da forma

"O Espírito, pela sua essência espiritual, é um ser indefinido, abstrato, que não pode ter uma ação direta sobre a matéria, sendo-lhe necessário um intermediário; esse intermediário está no envoltório fluídico que faz, de alguma sorte, parte integrante do Espírito, envoltório semimaterial, quer dizer, tendo da matéria por sua origem e da espiritualidade por sua natureza etérea; (...) esse envoltório, designado sob o nome de perispírito, de um ser abstrato, faz um ser concreto, definido, perceptível pelo pensamento." - Allan Kardec, em A Gênese, cap. XI, item 17.
 Diz Jacob Melo em O Passe, pág. 82 que "por ser o perispírito um corpo fluídico, ao mesmo tempo em que é o mediador entre o Espírito e o corpo, pode sofrer marcas, mutações, lesões mesmo, que só um trabalho igualmente fluídico pode reparar, seja pela ação fluídico-magnética, seja pela mentalização equilibrada, comprova-o o fato de vermos, ouvirmos e sabermos de tantos Espíritos desencarnados que trazem profundas marcas, fortes deformações em seus perispíritos, como decorrência de desvios pretéritos, regeneráveis pela assimilação moral de uma doutrinação cristã, conjugada à terapia do passe, e todo um processo de arrependimento e reforma íntima que, no seguimento, se estabiliza via etapas reencarnatórias corretivas".
 Em Evolução em Dois Mundos, afirma André Luiz no capítulo IV, 2.ª parte:
"As linhas morfológicas das entidades desencarnadas, no conjunto social a que se integram, são comumente aquelas que trouxeram do mundo, a evoluírem, contudo, constantementepara melhor apresentação, toda vez que esse conjunto social se demore em esfera de sentimentos elevados.”
"A forma individual em si obedece ao reflexo mental dominante (...)”
"(...) Se o progresso mental não é positivamente acentuado, mantém a personalidade desencarnada, nos planos inferiores, por tempo indefinível, a plástica que lhe era própria entre os homens. E, nos planos relativamente superiores, sofre processos de metamorfose, mais lentos ou mais rápidos, conforme as suas disposições íntimas.”
"(...) Quanto mais elevado se lhes descortine o degrau de progresso, mais amplo se lhes revela o poder plástico sobre as células que lhes entretecem o instrumento de manifestação. Em alto nível, a Inteligência opera em minutos certas alterações que as entidades de cultura mediana gastam, por vezes, alguns anos a efetuar."
Da mesma forma, o perispírito é o modelador da aparência do corpo físico, de modo que, (...) quando se dá o fenômeno da morfogênese fisiológica, o perispírito do reencarnante, bem como o de sua genitora, influencia diretamente sobre os caracteres genéticos e hereditários do reencarnante, gerando as marcas e detalhes físicos que exteriorizará em vida." - Jacob Melo, em Cure-se e Cure pelos Passes, cap. 5.

·        Órgão sensitivo do Espírito

"O corpo fluídico não é somente um receptáculo de forças; é também o registro vivo em que se imprimem as imagens e lembranças: sensações, impressões e fatos, tudo aí se grava e fixa. Quando são muito fracas as condições de intensidade e duração, as impressões quase não atingem a nossa consciência; nem por isso deixam de ser registradas no perispírito, em que permanecem latentes. O mesmo se dá com os fatos relativos às nossas anteriores existências." - Leon Denis, em No Invisível, primeira parte, item 3.
 Daí depreendemos que o perispírito além de ser a sede da memória, guardando todas as informações relativas a todas as existências do Espírito seja no mundo corporal ou espiritual, é ainda o veículo de todas as sensações trocadas entre o Espírito e o corpo físico. Desta forma, todas as informações exteriores colhidas pelos cinco sentidos corporais, chegam ao Espírito, que as registra, através do perispírito que é o corpo intermediário, sendo recolhidas e armazenadas pelo Espírito sob a forma de aprendizados, experiências e aptidões. Por outro lado, a vontade do Espírito é levada através do perispírito, sob a forma de impulsos energéticos, para o corpo carnal que a executa, como se pode concluir em Obras Póstumas, do Codificador da Doutrina Espírita, no capítulo das Manifestações dos Espíritos.

·        Veículo das Comunicações Mediúnicas e Anímicas

"O perispírito tem participação ímpar nos fenômenos e nas manifestações mediúnicas e anímicas, sendo ele, portanto, o intermediário vital e indispensável da transmissão fluídica por ocasião do passe, da prece em favor dos outros e de nós mesmos, do próprio magnetismo pessoal e do intercâmbio com o chamado "reino dos mortos". - Jacob Melo, em O Passe, cap. 2, item 2.5.5.
 Diante da vontade do desencarnado de comunicar-se com o plano físico através do médium, ou de executar um trabalho de cura através do passe, ele expande os seus fluidos perispiríticos colocando-os em contato com o perispírito do médium ou do magnetizador. Neste contato, é que se processa a transferência de pensamentos, sensações e energias de um para o outro.

Fonte

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